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Carlos Fortes

“A iluminação promove bem-estar”

“Após formar-se em Arquitectura em 1986”, Carlos Fortes da Franco & Fortes Lighting Design, São Paulo, afirma “vim para cá para trabalhar em design de iluminação com Esther Stiller e Gilberto Franco. Esther abriu no Brasil o primeiro escritório dedicado especificamente ao design de iluminação e Gilberto e eu realizámos uma parceria. Sou bastante autodidacta e aprendi imenso com outros designers, a viajar, em exposições e seminários, etc. Trabalhamos com quatro arquitectos qualificados, direccionados para a arquitectura e urbanismo, embora também realizemos trabalhos de iluminação cénica, teatral e de eventos. Não temos uma especialização em concreto, pelo que realizamos projectos de âmbito e natureza variados, desde apartamentos e pontos de venda a aeroportos, hotéis e parques.”

Por que motivo escolheu trabalhar na área do design de iluminação?

“Inicialmente pretendia trabalhar em cinema, mas quando comecei a trabalhar para Esther Stiller e Gilberto Franco fez-se luz, senti-me inspirado e procurei explorar melhor este campo. O design de iluminação permite promover uma sensação de bem-estar, criar um ambiente específico, embora nem sempre as pessoas se apercebam destes factos. Poderá não conseguir determinar o que sentem as pessoas, mas pode melhorar o respectivo estado de espírito e este aspecto é muito gratificante.”


Como prefere utilizar a luz?

“Gostamos de conceber uma iluminação artística para as exposições, por exemplo, quando é necessária uma abordagem mais intuitiva, emocional. Quando nos foi solicitado que tratássemos da iluminação do salão de exposições “Luzombra” (“luz” = luz) para demonstrar o tipo de sentimentos, efeitos e atmosferas que é possível criar com a luz, tornou-se óbvio de imediato que iríamos proceder de uma forma quase cenográfica recorrendo à ambiguidade, esse aspecto paradoxal da luz e da sombra, do cheio e do vazio, do côncavo e do convexo, da luz e das cores.”

Qual o conceito utilizado neste âmbito?

“Trabalhámos em quatro ambientes diferentes, cada um baseado num conceito diferente. O primeiro era a ilusão. Procurámos afastarmo-nos do ambiente tradicional de uma sala de estar utilizando pufes em forma de cubo de vidro duros, frios e lisos, de cor preta com uma mesa cheia de curvas fabricada a partir de um tronco de árvore. O conceito baseava-se na utilização de opostos (orgânico vs geométrico, natureza vs indústria) para demonstrar que existe mais do que um modo de iluminar um objecto ou superfície e que a luz pode criar emoções específicas.”


“Outro conceito envolveu a distorção da percepção, utilizando superfícies côncavas e convexas e diversificando a iluminação. Por vezes não era possível distinguir entre superfícies côncavas ou convexas. Também utilizámos uma parede de pregos para demonstrar como é possível distorcer a percepção e influenciar o modo como as pessoas percepcionam os objectos ou ambientes. Os pregos não só apresentavam um design em perspectiva, como estavam colocados com diversas profundidades na parede. No início estavam quase completamente enterrados e gradualmente iam sobressaindo cada vez mais até que no final ficavam a sair da parede quase na totalidade.”


“Aquilo que visualizamos varia consideravelmente em função da luz e do facto de existirem sombras.

Quando a parede estava iluminada parecia ter um padrão de bordado, um emaranhamento de linhas e texturas. Visualizava-se as sombras dos pregos na parede, em vez de serem visualizados os pregos em perspectiva.

Pretendia criar a ilusão de emaranhamento, de um rendilhado. O rendilhado não existia, era gerado pelas sombras e espaços vazios na parede.”


“Numa terceira sala trabalhámos com o oposto da ideia anterior, ou seja, um ambiente sem sombras. Criámos uma iluminação homogénea completamente difusa e sem sombras, tal como os arquitectos japoneses fazem utilizando papel de arroz, recorrendo, por vezes, à montagem numa estrutura em madeira. Colocámos uma estrutura metálica em contraluz em frente a uma parede lisa, branca, que reflectia a luz desta estrutura produzindo uma iluminação indirecta. O reflexo criou uma sensação idêntica à iluminação difusa e utilizámos espelhos nas outras três paredes da sala para criar vários reflexos. Havia uma luz difusa a partir de todos os lados e uma repetição interminável das imagens. Também fragmentámos uma das paredes espelhadas e posteriormente trabalhámos com o multi-reflexo e a fragmentação das imagens. A ideia consistia em não mostrar as fontes de luz.”

Recorreu à cor neste projecto?

“Jogámos com a cor e a luz utilizando uma parede branca com molas em acrílico de diferentes texturas e formas em contraluz através de um sistema RGB. Dependendo da composição e do facto de ser utilizada uma iluminação colorida por detrás das molas em acrílico ou uma iluminação ambiente à frente, parecia que as molas eram em si uma fonte de luz ou objecto colorido. Se o ambiente tiver muito brilho e a cor por trás não for muito saturada, na realidade, é possível visualizar pequenos círculos. Não é possível dizer efectivamente se o que é visualizado na parede é luz ou são botões coloridos. No entanto, se retirar a luz do ambiente e utilizar uma iluminação de cor completamente saturada por trás da parede, obtém um ambiente com brilho iluminado por esta cor. Portanto, utilizando exactamente a mesma fonte de luz e outros recursos criámos a ilusão de cor e luz.”


Os sentimentos que pretendem veicular variam em função do projecto?

“Sim, definitivamente. É necessária uma atmosfera completamente diferente para uma cantina com capacidade para 200 pessoas em relação a um restaurante romântico, mais sofisticado, que sirva 30 pessoas. É necessário sentirmo-nos integrados nesse local. Não se trata apenas da comida, trata-se das conversas, do momento, do ambiente.”

Fale-nos um pouco sobre projectos no exterior.

“Em 2007, dedicámo-nos à iluminação de um pequeno bar em São Paulo denominado ‘Escape’. Era necessário tornar evidente a distinção entre o exterior da rua e o interior do bar para criar um ambiente "escapista” em que as pessoas se sentiriam confortáveis, como se tivessem deixado para trás a grande agitação da vida quotidiana. Pelo jardim, entra-se num espaço com um tecto muito alto e ramos e troncos de árvore. Existem espelhos no tecto e as luzes embutidas no chão brilham no sentido ascendente através dos ramos de árvores, como projectores em feixes, e os espelhos no tecto reflectem a luz novamente para baixo, projectando uma luz intensa nos troncos. Verifica-se uma transição muito lenta das luzes fluorescentes coloridas programadas de violeta para azul e iluminámos outros ambientes com luzes de xénon incandescentes com cores quentes e baixa intensidade. A iluminação nos bares é difusa, pouco intensa e em qualquer outra parte localizada.”


“Pretendíamos que as pessoas sentissem que tinham deixado para trás a grande agitação da vida quotidiana e entrado num local diferente com um ambiente acolhedor e interessante.”


Tentámos criar um ambiente em profundo contraste com o ambiente a partir do qual as pessoas provinham, em que imediatamente após entrarem no bar esqueceriam o mundo que acabavam de deixar para trás. Penso que fomos bem sucedidos na criação deste tipo de ambiente, no qual as pessoas poderão ‘escapar’ após o trabalho para tomar uma bebida com os amigos, como se entrassem numa dimensão diferente, num estado de espírito diferente.”


Quais as tendências que observa no mercado?

“Actualmente há uma generalização na procura de fontes sustentáveis, soluções de iluminação eficazes e de baixo consumo, bem como na ponderação da viabilidade de reciclagem.”

Quais as mudanças a que tem assistido na área do design de iluminação?

“Em termos de produtos e tecnologias, observam-se melhorias constantes. Há dez anos, não se ouvia falar em lâmpadas fluorescentes para criar um ambiente acolhedor e simpático com uma iluminação pouco intensa e uma boa composição de cores. Em termos de emoções, considero que a abordagem minimalista preferencial nos anos 80 e 90 foi invertida e em vez de casas brancas, imaculadas, quase privadas de emoções, sem sombras, defeitos nem texturas, actualmente as pessoas pretendem que uma casa seja menos perfeita, mais expressiva, com mais emoções e com uma iluminação adequada.”


As tendências variam consoante o país?

“O modo como a luz é projectada e visualizada é determinado pelo tipo de clima em que se insere. Aqui, na América do Sul, onde o tempo é solarengo e o céu azul a maior parte do ano, a nossa experiência de luz natural e de luz durante a noite difere, por exemplo, das populações da Escandinávia, que têm muito poucos dias com sol e meses sem qualquer luz solar. A respectiva experiência de ambiente está sujeita a ser diferente da nossa e este facto reflectir-se-á nas respectivas interpretação da arquitectura e abordagem ao design de iluminação.”


Actualmente o que o inspira?

“Existem diversos aspectos que me inspiram: uma exposição de arte, o cinema... A fotografia num filme, por vezes, leva-me a pretender observar determinados efeitos, a utilizar a luz de determinadas formas.”

Carlos Fortes

Biografia

Localização
São Paulo, Brasil
Formação acadêmica
Arquitecto
Experiência
20 anos
Especializações
Iluminação de interiores e exteriores

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